terça-feira, 1 de maio de 2007

Conversa de bar


Passava um cachorro cogitabundo no outro lado da calçada não muito preocupado com os problemas que Zé Maria de Niinha vinha sentido. Aliás, ninguém nunca tava muito ai para a situação vivida por Zé. Zé era um coitado que vivia endividado, dores de dente, cheques voltados, intestino fraco e ainda por cima tinha sido traído pelas quatro últimas mulheres. Enfim Zé não vivia feliz!
Falando alguma coisa boa de Zé, ele tinha um amigo de mesa de bar...era o Antônio Cornetão. Antônio era desses bebos “metidos” a filósofo, psicólogo e de quando em vez agiota. A família de Zé não era muito unida. Suas irmãs brigavam muito, talvez porque fossem bonitas. Amigas ou irmãs que se beijam, trocam carícias só existem se as duas ou forem horríveis ou se forem idosas (eufêmico de velha gagá). Entretanto, sempre no momento do aperreio, como quase toda família, elas se juntavam e eram bem prestativas. Voltando a Antônio Cornetão... Antônio possuía uma filosofia muito rica, aquela que os gregos e todos os filósofos autodidatas possuem, aquelas filosofias inspiradas em um livro qualquer de Paulo coelho.
Zé era desprezado por tudo e por todos, salvo Antônio. Era um sofrimento frio, calado, mas ao mesmo tempo fervilhador. Zé vivia, literalmente, uma briga como a de São Jorge Guerreiro e o Dragão. Na linguagem interiorana uma verdadeira briga de foice. No âmbito filosófico uma crise existencial. Ele sempre achava que era o diferente do mundo, sentia-se o errado, o excluído. Fato este que é na verdade. Zé era tímido, besta e os ambientes visitados por ele eram meio “carregados”. As pessoas eram invejosas, “arteiras”, safadas e isso só acabava mais com Zé, já que aquela anta não prestava atenção em nada.
Cornetão certa vez ia passeando pela praça e avistou Zé lá ancorado em pensamentos de desprezo rindo de um embuá que se enrolava todo quando era tocado, talvez essa foi o único momento nos últimos 10 anos em que Zé soltou um sorriso. Calmamente, sem querer atrapalhar aquele momento de orgasmo cerebral de Zé, Antônio puxou uma conversinha:
- E ai Zé que se passas?
- Tudo indo...
- Indo bem ou indo ruim?
- Indo!O importante num é ir né? Você que me ensinou isto.
- Tô sentindo você meio triste.
- Já me viu em outro estado?
- Não, mas...o que foi que houve?
- Fui enganado novamente por uma mulher, ela acha que eu sou um trouxa. Você acha Antônio? Você acha que eu sou um trouxa Toin?Acha não né?!
- Bem Zé vou ter que ir ali cobrar uns juros de um dinheiro que emprestei.
- Até. Obrigadão ai novamente por ter me confortado. Você é meu amigão viu?!!!
Antônio saiu pela tangente como sempre. Mas foi proposital. Antônio sabia que se consolar uma pessoa que está sofrendo amargamente, que vive se reclamando, que outra consolação sobrará para esse coitado?. Ele tinha em mente que a melhor consolação do sofrimento era o "deixa-sofrer".
Nesse dia Zé passou o dia na praça brincando com os embuás e com algumas lagartas de fogo que por lá aparecia.
Certa vez no Bar da Tesoura Zé encontro com Antônio. Os dois estavam numa cana desgovernada. Foi uma verdadeira sessão psiquiátrica. Zé limpou toda a sua chaminé e ainda escutou alguns ensinamentos da filosofia “prussiana” de Antônio. Um desses conselhos mudaria, definitivamente, o modo vivendis de Niiinha.
Passado alguns dias, Zé Maria começou a visitar cada vez mais aqueles supostos locais "carregados" que lhe davam tanto medo antes, começou a conversar com as mulheres que desprezavam-lhe; Zé levou até aquele cachorro para criar em casa. Enfim a conversa de Zé com Antônio foi extremamente proveitosa. Essa sessão tinha mudado completamente a sua vida. Zé começou a falar muito. Entrou até para o Sindicato dos descarregadores de caminhão (SINDECA) de sua cidade. Tornou-se o principal orador nos movimentos de esuqerda dos quais participava.
Após uns dias Zé avistou Antônio lá na travessa da queda.Chamou-o, porém não foi escutado. Deu aquele assovio (ffffiiiiiiiiiiooo)... Zé tinha até aprendido a assoviar! Antônio olhou para trás meio desconfiado. Agiotas sempre andam apreensivos, com medo que um de seus credores mandem um balaço endereçado no seu tronco encefálico. Mas Antônio reconheceu Zé e parou:
- Diga meu inexorável e antioxidante Zé. Grande autarquia!
- Diga Antônio.
- Como vai Zé?Noto você um pouco mais ai com o mundo.Estou certo?
- Certíssimo!
- O que houve? Virou político?
- Quem me dera!
- E o que foi então?
- Você, Antônio!
- Que foi que eu fiz?
- Aquela nossa conversa daquele dia. Aquela conversa me modificou completamente. me tornei outra "coisa".
- Mais o que foi que eu disse criatura que te modificou tanto?
- Algumas coisas.
- Claro né! Pelo que eu lembre eu não parei de falar um minuto...Noto você freqüentando aqueles locais outrora não idos, noto você conversando com aquelas vadias que desprezaram-no, soube até que cria um cachorro. Diga-me que disse para mudar tanto sua vidinha.
- De toda aquela conversa, Antônio, só uma coisa me serviu.
- O que foi?
-Você disse para que eu não me irritasse com os desprezos e os insultos feitos pelo povo alheio, disse que eu estudasse todos e tudo calmamente e, a partir daí faria dessas pessoas e do mal que eles me fizessem o meu melhor e mais divertido recreio.


Primeiro conto.Inspirado em quatro versinhos de Mário Quintana.

2 comentários:

sem título disse...

Se o primeiro conto nasceu assim imagine os que sucederão!
Sinceramente a inspiração de Mário Quintana em vc tá fazendo muito bem.Continuando assim vai florir outros mais fabulosos contos!
Gostei da "filosofia de botequim"oq seria dos ébrios sapientes senão dela lograsse tanto gosto e desgosto.
Eita que este Antônio pícaro dos botecos ainda vai ser lembrado pela literatura!!!
Definitivamente vc não aprecia a filosofia grega!!
vamos comparar Socrates a paulo coelho.
belo...grande observação...
porém é preciso a bebdida para que a satisfação exista?
"beber e fumar"não são os grandes corruptores do pensar e agir?!

Anônimo disse...

Se sua intenção é escrever para o nada.
Eis que o nada o responde.
Ele pede desculpas por sua limitação de vocabulário e falta de criatividade com comentários sem fundamentos.
Porém este nada que vos fala, apesar de naum ter nenhum embasamento teórico-prático de produçaõ de textos( principalmente os de cunho literário), observou vida e fundamento no seu texto...além da criação de um ambiente real,o retratar da situação explicitou uma "lição de vida" (e não foi clichê).