quinta-feira, 17 de maio de 2007

15 segundos


Ancorado numa rede macia, aprecio a sofrida e impactante rajada de um vento frio no meu tão desgastado dorso. Penso de imediato em fantasmas. Penso, rapidamente, no amor que espero a tempos...Talvez seja por achar que ela vem emulsificada na alma do sopro que me acalenta.
Com o vento vêm duas criancinhas no outro lado da rua de vestidinhos vermelhos obedecendo os gritos de sua mãe tangedora...essa vaca!Filho, que coisa mais linda... que coisa mais suja quando novos e mais amorosa quando limpos. A suavidade da pele, as mãozinhas finas na minha barba falha, o grito de ai! Quanto amor, quanto ardor.
Porém, "algo de ausente me atormenta", a mãe morta, os filhos chorando, o assassino gritando, o beijo quente. Não sei bem o quê e quem me atribula.
Uma estrelinha, policaudada feito um polvo, transpassa rapidamente como minha última lembrança tua nesse céu que me guarda e me serve de oração.Alguma coisa há. Linda estrelinha, nunca me engana...nunca me abandona. Verdadeira orixá desse cético. A palavra não me basta, o riso infantil do louco não me basta, a certeza não me basta...Uma dose de lirismo com aguardente talvez acalmasse esta angústia. A tensão me acomete. Estou petrificado. Minha vida está atada num nó cego em outras vidas.
Amor?quem sabe...Longe de mim amor. Vai de retro. Sinto medo. Já estou com calafrios. Resquícios de um passado fúnebre? Talvez. Medo? Sempre.
Ah!Senhor se devaneios fossem soldos para contigo,quão salvo eu já estava!
E as duas lindas menininhas se apagam pela esquina tortuosa...

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