domingo, 6 de maio de 2007

Amor em Marrocos


No dia 11 de junho de 1963 em Saigon. O sacerdote Thic Quang Duc da seita budista reformada se suicida em protesto contra a política religiosa do governo de Ngo Dihn Diem. Enquanto isso em Tanger ,Marrocos, os judeus David Benaliel e Belízia Levy davam o primeiro beijo ardente de muitos que vinham a ocorrer.
David era um rapazote ainda. Magro, barbudo, muito centrado na sua religião. Usava sempre ternos vindos de Casablanca. Sua família era composta de comerciantes que atuavam em todo o Estreito de Gibraltar, porém David nunca se interessou por essas transações. Já Belízia era uma judia um pouco mais recatada, até por causa da própria religião que era muito representada pela figura do pai. Belízia era extremamente atraente. Seus olhos eram fascinantes e ela sabia usá-los nas horas mais convenientes, era o tipo de mulher quieta mas subvertida. Sabia se pôr e se impor diante das situações.
De início o relacionamento dos dois foi muito complicado, como sempre em qualquer lugar da terra há divergências entre duas mentes. Aliás, mentes são divergentes por si só. David era cabeça dura, alienado demais. E Belízia pensava muito. Estava sempre enfurnada em livros de filosofia árabe como Maimônides e outros do século XIV e XV. No entretanto, a paz reinava quase sempre, era difícil ter conflitos a não ser os indispensáveis. Para falar a verdade mesmo, Belízia só se irritava com o espírito não aventureiro de David, e, o fato dele nunca se deixar fotografar. No demais, era quase impossível vê-la triste. Ela achava que a tristeza era o canto que o demônio queria ouvir para se eriçar e atacar sua vítimas humanas- mortais e indefesas. Creio que ela leu isso em algum livro.
Os dois sempre queriam estar juntos. Se amavam às escondidas por imposição de Belízia, já que David era um judeu molenga. Quase todas as noites se encontravam próximos aos muros que defendeu a cidade das invasões portuguesas e construído lá com os Fenícios e Cartagineses. Havia imensas declarações. Anéis de saturno, dragão lunar, estrelas, planetas (principalmente plutão, Bezília era louca por plutão), enfim eram promessas de amor inacabadas. Sempre sonhavam em casamentos. Pensavam nos nomes que iam pôr nos filhos.Nesse momento sempre saia briga, pois David queria pôr o nome de suas filhas seguindo a tradição judaica e Bezília, como estava na moda, queria dar aos filhos nomes espanhóis fortes como Luna, Reina, Perla.

O diálogo que ocorria era sempre o mesmo:
- Meu amor...
- Oi...
- Tu me ama?
- Amo muito!
- Muito quanto?
- Muito!
- Muito muito ou só muito?
- Muito, muito, muito, muito....
Era essa conversa inerente dos amantes. Aquele besteirol amoresco, porém amor.
Esse ar de soberano amor ocorreu por vastos dois anos mais ou menos. Belízia estava com seus vinte e um anos e Benaliel ia entrar na casa dos dezenove, ainda. Certo dia B. levy soube por cartas anônimas que David estava mentindo para ela em certos momentos, pois tinha entrado para o comércio de tapetes persas e os finais de semans que David dizia visitar a sua vó, estava viajando pelo meditrrâneo. Belízia pensou logo em traições e foi irredutível ao afirmar que David era um mentiroso, bonifrate e outras coisas que a censura não permitiria escrever. David tentou se explicar alegando que estava trabalhando para juntar dinheiro para o casamento dos dois. Queria comprar um lote na cidade de Fez. Nada adiantou. Belízia só pensava na desgraça. Era um pensamento fixo, egoísta, carrancudo.Estava tudo acabado e pronto. Se David quisesse vender suas coisas que fosse, mas que a esquecesse. Diluísse a imagem de Belízia de seu intelecto.
D.beneliel ficou desamparado. Pensou em suicídio até!(não havia prozac naquele tempo). Ele trocou o Torá rabino e o muro das lamentações em jerusalém por uma noite nos becos estreitos de Tanger...bebendo muito e comendo carne de porco. Belízia só chorava, chorava até não ter mais lágrimas e quiçá ficar cega. Porém, o enlace foi refeito no outro dia, só que permaneceu aquele clima de nebulosidade. Havia uma desconfiança excessiva por parte de Belízia. O amor tinha se escondido atrás dos muros de Tanger. Todavia a espereança existia. Diziam por lá que a “esperança é a penúltima que morre, quem morre por último é o herói que não deu tempo correr do perigo”. As coisas foram sendo maquiavelicamente acontecendo, maquiagens foram postas na face do amor.
E no dia 4 de maio de 1965, enquanto era comemorado o Dia de Sheila No Gis, deusa proteora dos humildes na Irlanda, David lia uma carta escrita por Belízia aluindo toda aquela história construída por ambos.
Bem no canto dessa carta tinha duas citações:
“O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas como elas são” Friedrich Wihelm Nietzsche
“O amor é um não-sei-quê, que surge não sei de onde, e acaba não sei como”

Scydery
Belízia Levy queimou todos os seus livros de filosofia árabe.

Um comentário:

Viajar... disse...

Esta hsitória é real?