sábado, 28 de abril de 2007

Diálogo com o Tempo



Chove nesse vilarejo e junto com a água também cai e escorrem meus prantos, minhas dores. A chuva não está cumprindo seu papel principal de lavar tudo por onde passa. A chuva está sendo perversa, está causando alagamentos em meu corpo, minha mente. Não entendo por que ages assim magnífica chuva! Minha alma continua impura por tua culpa. “Alma sebosa”. Alma de sofrimento, de quem clama por um carinho amiúde. Alma de quem está profundissimamente desconfortado com o chão que pisa.
Devaneios, poesias, mulheres, nada disso poderia me saciar. Apenas a tua água. Essa água límpida que se tornou turva, instantaneamente. Sinto os pingos no meu semblante, mas são pingos frios, são como beijos de quem não se ama dados falsamente com desprezo. Vejo a água escorrendo pelos meus pés, observo nuvens com formas pictorescas. Nada disso me alimenta. Isso são maquiagens usadas por tu que me evitas ao máximo. Diga-me chuva por que corres assim de mim? Não quis te evitar ao me esconder sob aquele alpendre! Foi um impulso errôneo, peço-te perdão! Clamo-te, molha-me! Escorre tua água pelo meu corpo, se infiltra nos meus poros, nutrifica minha áurea; porém não vá, rogo-te, não vá.
Calma santa chuva, não esbraveje com seus trovões! Esses são os seus argumentos? Os meus são maiores, tenho amor e isso é o mínimo que posso dar-te. Meu amor é falho? Pode até ser, mas tento a perfeição, sempre. Meu amor te faz sofrer? Não quero entrar nessa questão, isso é complexo.
Chuva! Chuva! Chuva! Está se esvaindo não é?! Percebo. Noto tuas nuvens deslizando vagarosamente pelo horizonte. Estou sentindo você mais longe. Sinto o mundo se partindo.
Não há mesmo diálogo entre nós? Queria-te apenas para confortar minha alma, queria a paz sublime.


Fez-se o Sol.

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